Crítico da IA na música e saturação no mercado, Suricato vê rock anos 80 como guardião de uma era que 'jamais irá se repetir'
10/06/2025
(Foto: Reprodução) 'Se você aniquila o processo de tomada de decisão, não adquire repertório interno substancial para se tornar um artista parecido com aqueles que nos inspiraram', diz vocalista do Barão Vermelho. Banda carioca é uma das atrações do João Rock. Rodrigo Suricato, atual vocalista do Barão Vermelho
Miguel Folco/g1
Ele ficou conhecido em todo o país como compositor, multi-instrumentista e um dos finalistas da primeira edição do reality show SuperStar, em 2014, na Globo. Três anos mais tarde, com uma carreira autoral consolidada e premiada, topou a missão de assumir o vocal do Barão Vermelho, para substituir ninguém menos que o ídolo Roberto Frejat.
Hoje, pela forma de se expressar e agir - como deixar a antiga banda por conta da sensação de esgotamento- Rodrigo Suricato vai "nadando contra a corrente", como diria Cazuza, ao questionar o que está acontecendo com a música e com uma realidade cada vez mais tomada por tecnologias, streamings e excesso de informação.
Siga o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp
E nesse contexto, ele, que é presença confirmada no João Rock, em Ribeirão Preto (SP), na linha de frente da banda carioca, pondera que a inteligência artificial é irreversível. Mas, quando o assunto é composição musical, o fator humano é primordial. Isso, ao menos, se as pessoas ainda querem algo genuíno e semelhante ao que nos fez um dia gostar de música.
"Sob o ponto de vista dos direitos autorais, há sim um longo caminho pela frente. Arte é sobre o processo e construção individual. Se você aniquila o processo de tomada de decisão, não adquire repertório interno substancial para se tornar um artista parecido com aqueles que nos inspiraram na história", disse, em entrevista ao g1.
À frente do Barão Vermelho, Suricato estará no Palco João Rock pela segunda vez. Na primeira, em 2022, o grupo tinha sido atração do Palco Brasil. Os cariocas dividirão espaço com Marcelo Falcão, Natiruts, Maneva e outros nomes na edição 2025, que será em 14 de junho no Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto.
'O Barão era minha banda nacional predileta'
Lá se vão mais de sete anos desde que Rodrigo assumiu o lugar de Frejat. "O Barão era minha banda nacional predileta, era fã e profundo conhecedor da discografia", conta. Ele lembra que tudo começou com um primeiro convite para uma turnê com grandes nomes dos anos 1980, entre eles Maurício Barros, tecladista do Barão.
"Eu era o mais novo e representava a safra mais recente do rock através da Suricato. Ficamos próximos e ele soube o quanto o Barão me influenciou."
Dessa proximidade, resultou um telefonema do tecladista, anos depois, dessa vez para assumir os vocais do Barão. Rodrigo afirma que o dilema inicial era mais uma questão de química com os integrantes do que qualquer aspecto técnico.
O primeiro ensaio deixou claro que a escolha tinha sido bem-sucedida. "Naquele momento, vi minha entrada na banda reacender a chama que eles haviam perdido há muito tempo."
Hoje, ao mesmo tempo que uma honra, ser sucessor de Cazuza e Frejat representa uma jornada de muito trabalho, recompensada pelo retorno do público e pelo crescimento pessoal que as trocas da equipe, nem sempre amistosas, proporcionam.
"Performar pelo Brasil um repertório tão consagrado, numa estrutura que permite com que eu me apresente em alta performance, acaba melhorando aspectos técnicos que eu levaria muitos anos pra adquirir, principalmente no canto e na condução do show com a plateia", diz.
LEIA TAMBÉM
Baixista do Natiruts diz que banda chega ao fim no auge da carreira: 'Nunca imaginamos lotar estádios de futebol'
Ao g1, Seu Jorge fala sobre turnê na Europa, desafios do novo álbum e como entrou para mundo da moda
Cantando 'como nunca': o que esperar da nova turnê de Vanessa da Mata
Toni Garrido e Bino Farias caem na estrada com nova turnê: 'O Cidade Negra está aqui, não parou, não acabou'
Rock anos 1980: 'diferente de tudo que virá'
O Barão Vermelho, em sua fase mais recente, tem canções novas, álbum de estúdio, turnê cheia e está a todo vapor com shows por todo o país. Mas Suricato tem certeza de que a missão maior dessa jornada tem mais a ver com preservar os elementos de uma época que provavelmente as novas gerações nunca saberão como foi do que se adaptar à linguagem de novos públicos.
"Embora alguns artistas tenham um problema com a palavra 'nostalgia', o papel das bandas dos anos 80 ainda é o de preservar uma memória de uma geração que jamais irá se repetir: uma geração analógica, pré-internet e diferente de tudo que virá. Nada se consolidará na memória afetiva do brasileiro dessa maneira. Portanto, preservar um tipo de cultura pode ser mais honroso que lutar desesperadamente para falar a linguagem dos jovens."
Essa difusão é relevante para o vocalista, que afirma já ter percebido, por meio dos próprios fãs, indícios de que muito desse movimento musical já se perdeu entre os mais novos.
"É importante dizer que tantas gerações já vieram depois que muitas pessoas sequer têm noção de que o Cazuza já fez parte da banda um dia. É algo que eu escuto constantemente. A cronologia do rock é confusa para a maioria dos jovens, ainda mais numa banda com tantas fases como o Barão Vermelho."
Banda 'Barão Vermelho'
Reprodução/Sesi
Música, tecnologia e plataforma de criatividade
Quando já era vocalista do Barão, em 2023, Rodrigo anunciou o encerramento da banda Suricato, alegando um esgotamento com uma rotina comprometida em trabalhar por uma "onipresença digital publicitária" e por questões que não tinham nada a ver com música.
Dois anos depois, Suricato reforça o discurso de que o propósito maior da música não tem nada a ver com mercado fonográfico, metas de visualizações e players, muito menos estar ligado a um ou outro projeto.
João Rock 2025: festival em Ribeirão Preto espera mais de 60 mil pessoas
Embora continue a compor e a se apresentar também com um projeto próprio de blues rock, Rodrigo Suricato diz não ter mais ambições autorais e também não se enxerga pisando em palcos por longa data, devido aos planos que têm em mente. "Eu não preciso de palco para desenvolver minha atividade artística e criativa."
O incômodo com relação aos excessos da era da informação, aos poucos, começa a se consolidar em um novo projeto, que vai além do trabalho de músico e compositor. Ele não dá detalhes, mas afirma que será uma plataforma para músicos.
"Existe, na música, uma deturpação tão grande de valores, uma saturação irreversível de conteúdos, que me fez repensar e desenvolver outras formas de instrumentalizar minha criatividade. Em breve, eu lançarei uma plataforma inovadora para que artistas se mantenham criativos e potentes no mundo de hoje", diz.
Barão Vermelho lança a música "Do Tamanho da Vida' no Palco Sunset
Veja mais notícias do João Rock 2025
VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região